‘Se o G20 se dividir, perde a relevância em nível global’, diz secretário-geral da ONU

No Rio para o G20, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou aos países do fórum, que reúne as maiores economias do mundo, que alcancem um consenso para a declaração final da cúpula. O comentário foi feito durante uma coletiva de imprensa no Vivo Rio, na Zona Sul da cidade, e acontece em meio a tensões nas negociações, que chegaram até às 5h da manhã deste domingo. Dois fatores tem desestabilizado, até o momento, a formulação do documento conjunto: um ataque russo à Ucrânia, no início do dia, que levou nações ocidentais a pedirem a rediscussão da parte geopolítica do texto; e a Argentina, que tem manifestado divergência em relação a diversos pontos-chave da presidência brasileira.

— Faço um apelo a todos os países para que tenham um espírito de consenso, para que consigam bom senso e encontrem as possibilidades de transformar esta região do G20 em êxito com decisões que sejam relevantes para a ordem internacional — afirmou Guterres, acrescentando enfático: — Se o G20 se dividir, ele perde a relevância em nível global.

Guterres defendeu uma reforma da governança global, pauta cara à agenda brasileira, e disse que o Conselho de Segurança da ONU “reflete o mundo dos anos 80”.

— As ameaças que enfrentamos hoje são interconectadas e internacionais. Mas as instituições globais de resolução de problemas precisam desesperadamente de uma atualização, não menos importante o Conselho de Segurança, que reflete o mundo de 80 anos atrás — disse. — O Conselho de Segurança corresponde ao mundo de 1945. Eu vou dar um exemplo. Há três países europeus que são membros permanentes do Conselho de Segurança. Não há nenhum país africano, não há nenhum país latino-americano. Portanto, o Conselho de Segurança não corresponde ao mundo de hoje.

Questionado sobre os impactos da eleição de Donald Trump à Casa Branca na cooperação internacional e como evitar seus efeitos, Guterres destacou a necessidade de reforçar o multilateralismo.

— Se fizer isso no nível da arquitetura financeira, se adotar um diálogo significativo, se for capaz, com todo o desejo, de fazer um reforço no multilateralismo, essa é a melhor resposta possível — afirmou.

Segundo o diplomata, a reforma da governança é “indispensável” para trazer mais equilíbrio entre os países e passa por aumentar a presença de nações do chamado Sul Global nos organismos multilaterais.

— As economias emergentes têm um papel muito mais reduzido do que o que corresponde à sua qualidade. E o mesmo é verdade para várias outras áreas do sistema — disse o diplomata. — É evidente que a reforma do sistema multilateral é absolutamente indispensável para fazer face aos desafios atuais.

Guterres também saiu em defesa da Agenda 2030 da ONU, plano de ação global para promover o desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza em seis anos. O secretário-geral não citou a Argentina e seu presidente, Javiar Milei, mas foi enfático na defesa do clima, tema que tem sido alvo de entraves por parte da Casa Rosada, apesar de diversos documentos já terem sido assinados ao longo dos últimos meses em encontros ministeriais.

— Agenda 2030 é o caminho claro para enfrentar as tremendas desigualdades e as tremendas injustiças que existem no mundo — disse.

Com todos os holofotes do mundo no evento, Guterres frisou que “falhar não é uma opção” para o encontro do fórum, destacando, ainda, que o sucesso da COP29, cúpula do clima da ONU que está acontecendo paralelamente ao G20 em Baku, no Azerbaijão, depende do G20.

— É hora de dar o exemplo com a liderança das maiores economias e maiores emissores de poluentes. O fracasso não é uma opção. Um resultado bem-sucedido na COP29 ainda é possível, mas exigirá liderança e compromisso do G20

A questão do financiamento dos programas contra as mudanças climáticas domina os esforços nas negociações em Baku. O objetivo é definir claramente como custear mais de US$ 1 trilhão anuais em ajuda aos países em desenvolvimento como parte da estratégia. Esses recursos seriam destinados a investimentos em energias limpas e proteção das cidades contra desastres climáticos.

Países emergentes reivindicam globalmente US$ 1,3 trilhão (R$ 7,5 trilhões na cotação atual) por ano até 2030 para combater as mudanças climáticas. As potências europeias, por sua vez, pressionam para que grandes economias em desenvolvimento, como Brasil, Índia e Turquia, também contribuam para enfrentar os problemas ambientais em nações de baixa e média rendas. Mas as nações se opõem à ideia. O Brasil, por exemplo, argumenta que os países desenvolvidos são os principais responsáveis históricos pelas emissões de gases poluentes.

No entanto, o impasse pode ser resolvido com as conversas paralelas que estão ocorrendo no âmbito do G20 no Rio, onde se reúnem nos próximos dois dias líderes das 20 maiores economias do mundo. Os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões de gases poluentes no mundo.

Guterres exortou os líderes do grupo a darem “instruções claras aos negociadores em Baku para que cheguem a um acordo absolutamente essencial sobre o novo objetivo financeiro global”.

Fonte: O Globo

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