Um grupo independente de monitoramento eleitoral da Rússia disse, nesta segunda-feira, (18) que a eleição presidencial vencida por Vladimir Putin de forma esmagadora, com quase 90% dos votos, foi a mais fraudulenta e corrupta da história do país.
O grupo Golos (“Voz”, em português) disse que as eleições de três dias que terminaram no domingo não podem ser consideradas genuínas porque “a campanha ocorreu numa situação em que os artigos fundamentais da Constituição da Rússia, que garantem os direitos e liberdades políticas, não estavam essencialmente em vigor”.
“Nunca antes vimos uma campanha presidencial que ficou tão aquém dos padrões constitucionais”, afirmou o grupo num comunicado.
O Kremlin saudou nesta segunda-feira o resultado, com uma participação recorde de 77,4%, como uma demonstração de que o povo russo se “consolidou” em torno de Putin, e afirmou que as tentativas ocidentais de retratar a eleição como ilegítima eram absurdas.
Os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido e outros afirmaram que a votação não foi livre nem justa devido à prisão de opositores políticos e à censura.
Fundada em 2000, o Golos é o único órgão de fiscalização eleitoral da Rússia independente das autoridades.
Considerado um “agente estrangeiro” em 2013, o grupo foi proibido de enviar observadores aos locais de votação. Um dos seus líderes, Grigory Melkonyants, está na prisão aguardando julgamento por acusações que o Golos diz serem politizadas.
A comissão eleitoral da Rússia disse que a votação ocorreu sob escrutínio adequado. Afirmou que havia um terço de milhão de observadores russos, nomeados por candidatos, partidos e organizações sociais, bem como centenas de estrangeiros.
Pressão
O Golos disse que os candidatos e os partidos se abstiveram de enviar observadores a algumas regiões. Em outros, os observadores foram retirados após o início da votação, afirmou.
“Em conversas privadas, representantes de candidatos e partidos admitiram que isto foi feito sob pressão”, disse o grupo.
Outros observadores “indesejáveis” foram retirados das assembleias de voto e intimados para comparecer nos cartórios de registro militar durante o período de votação, enquanto outros foram detidos e revistados, acrescentou.
Golos disse que exemplos de intimidação dos eleitores incluem a presença de agentes da lei nas seções eleitorais e relatos de que os agentes espiavam por cima dos ombros dos eleitores para ler os seus boletins de voto.
Um oficial de um local de votação na região de Moscou “arrancou a cédula preenchida da mão de uma eleitora e verificou em quem ela votou”, disse o grupo.
Autoridades de outro local de Moscou exigiram que um funcionário eleitoral local abrisse uma urna lacrada e entregasse um dos comprovantes, disse Golos.
A Reuters não conseguiu verificar esses incidentes de forma independente.
Houve incidentes dispersos de protestos nos locais de votação. Alguns russos incendiaram cabines de votação ou derramaram tinta verde nas urnas.
Chamando essas pessoas de “canalhas”, o chefe eleitoral da Rússia alertou que aqueles que tentassem interromper a votação enfrentariam cinco anos de prisão, e o ex-presidente Dmitry Medvedev disse que poderiam ser acusados de traição.
Pelo menos 74 pessoas foram presas em toda a Rússia no último dia de votação de domingo, segundo o grupo de direitos humanos OVD-Info.
CNN Brasil